A trilha da Cacaria localizada no Rio de Janeiro é considerada por muitos como uma trilha MÉDIA tendendo para DIFÍCIL, a ideia de tentar diferenciar o que é PASSEIO de TRILHA já se mostra complexa, pois é algo muito subjetivo e depende da experiencia de quem esta avaliando e de seu equipamento, algo que pode ser considerado simples por alguém, pode ser considerado impraticável para outros. Basicamente falta no cenário offroad no que se diz respeito a trilhas (ou passeios) uma forma cientifica ou menos subjetiva de rotular um percurso e como consequência, erros de avaliação são cometidos com frequência e a segurança, logicamente, sofre com isso.
Antes de começarmos, um aviso bem claro e muito importante.
NÃO VÁ A NENHUMA TRILHA SEM UM PARCEIRO DEVIDAMENTE EQUIPADO E COM EXPERIENCIA NO PERCURSO, NÃO DESBRAVE NOVAS TRILHAS OU TENTE MAPEAR PASSEIOS SEM MUITA EXPERIENCIA POIS O ERRO SE ESCONDE EM CADA DESNÍVEL, EROSÃO, ALTO SEM VISÃO, TRANSPOSIÇÃO DE RIO E ATÉ MESMO EM UMA INOCENTE RETA PLANA. EVITE DANOS AO SEU CARRO E PRINCIPALMENTE FERIMENTOS QUE PODEM INCLUSIVE LEVAR A MORTE.
Mais uma coisa.
Todas as informações fotos e dicas nesse texto devem ser encaradas como escrito por alguém que apesar de certa experiencia não é um expert ou praticante costumeiro de trilhas, em resumo, se você esta muito acostumado e possui um bom equipamento certamente HOJE todos os obstáculos e marcações não são exatamente tão desafiadores, mas lembre-se que devemos ter responsabilidade em não exagerar e muito menos menosprezar os riscos, se errarmos a mão podemos desincentivar a pratica do offroad ou pior, podemos incentivar pessoas a irem despreparadas praticar a fina arte de dominar os elementos.
Vamos nessa?
Na Cacaria (assim como em outras trilhas) transposições de córregos/riachos/rios podem ocorrer e mesmo parecendo fácil o fundo pode conter alem de pedras, um terreno arenoso ou escorregadio.
Os Nômades, grupo carioca recém criado já conta com 45 integrantes, todos compartilhando basicamente o mesmo ideal e metas. De acordo com a descrição encontrada no próprio grupo (Facebook) pode-se ter uma ideia dos objetivos bem definidos de seus membros, com a palavra Renato Persan.
“Sejam muito bem vindos, meus amigos!!!! Alguns já conheço pessoalmente e outros, espero o próximo passeio para assim o fazer. Aqui é de fato um local de respeito ao próximo e exercício da parceria incondicional. Nossa bandeira é de paz e temos uma relação de respeito à natureza e as pessoas q moram nos lugares que visitamos.
Se pensa assim, se quer agir assim… Junte-se a nós!!!!”
Muito Bem! Definidos os atores dessa grande aventura, uma coisa é preciso deixar bem clara. A luta para que os NÔMADES fossem convencidos a topar levar Judith, mesmo com todo histórico, campeonatos e etc (Se ainda não conhece clique AQUI) foi bem grande, afinal de contas os mais experientes sabem que Cacaria não é brincadeira e algo “fácil” rapidamente se transforma em algo muito arriscado, porem, diante dos fatos anteriores e já por conhecer o pessoal ficou claro estávamos cientes do risco e responsabilidade, partimos.
Ainda no inicio a pintura chegava a brilhar radiante, sem esperar o que aguardava Judith, sua tripulação e seus amigos Nômades. Cacaria aguardava e chegar na cachoeira não seria moleza.
Como chegar e se localizar para trilha, Wikiloc indispensável!
Na interface do WIKILOC podemos ter uma ideia da trilha, incluindo aonde acessar, comentários, fotos e etc.
Conhecem o WIKILOC, certo? Caso contrario acesse imediatamente http://pt.wikiloc.com/ se cadastre (pode usar livremente mesmo sem cadastro, mas você perde algumas funções muito bacanas) e veja por si mesmo o excelente banco de dados sobre trilhas e percursos de diferentes esportes outdoor, já existe um bom levantamento disponível da trilha da cacaria e iremos usar ele como base! Confira direto no Wikiloc clicando AQUI
Eu e minha navegadora Lia Souza, que desde do começo analisando alguns videos tinha chegado a firme conclusão que um carro 4×2 por mais preparado que fosse iria se enrolar nas erosões subindo já que praticamente todos os carros ficavam em 3 rodas partimos juntos com o pessoal, ela certa que precisaríamos de ajuda para transpor alguns obstáculos, eu como piloto logicamente achando que poderia dar um jeito com velocidade, afinal de contas JUDITH possui uma altura de solo compatível com outros carros como Mitsubish TR4, Jimny e etc alem de pneus e outras modificações… porem a realidade bate na cara como chuva em vendaval…
No inicio, Cacaria promete, acena levemente com um ar de que algo se aproxima de forma tensa, mas até coloca umas vaquinhas para você se distrair e de repente… POW!! Neste ponto carros sem preparação conseguem chegar e ir adiante, logo na frente existe um ponto para estacionar e ficar por lá mesmo ou resolver arriscar
Nesta trilha existem diferentes obstáculos (ou marcadores, pontos de referencia) e vamos aborda-los por tópicos, mesmo que fiquem fora de ordem mas sempre iremos sinalizar quando isso ocorrer. Então vamos a eles sem mais demora.
LEMBRE-SE: Os itens não estão pontuados em ordem geográfica, ou seja, você não vai abordar transposições de rio/riacho/córrego e depois atoleiro e etc, a ordem aqui seria “mais ou menos” por grau de dificuldade (do mais fácil ao complexo), verifique o link do Wikiloc colocado acima e você terá a marcação de todos eles em ordem.
Transposições:
Em Cacaria se transpõe riachos como se contam estrelas a noite no céu.
Transposição é basicamente o ato de ultrapassar, no caso, um rio/riacho/córrego. A trilha da cacaria possui ao todo sete transposições, sem contar o atoleiro. Sim você leu corretamente, são 7 transposições de rio com diferentes graus de dificuldade, alguns rasos que você até esquece e não conta, outros, marcantes com seus leitos ricos em areia fofa e por vezes (sempre!) recheados de pedras, você deve transpor com calma e sempre seguindo o mais experiente e mesmo assim não tire os olhos dele e fique atento para qualquer dificuldade. Nenhuma transposição de rio ofereceu grandes problemas para Judith ou qualquer um dos carros do grupo, mas todos foram bem cautelosos e colocaram sua experiencia a disposição de forma integral.
Dica: Saiba muito bem a altura máxima de água que seu carro suporta antes de começar a aspirar água pelo sistema de admissão. De nada adianta um super 4×4 que não aguenta 40 cms de lamina de água, se for esse seu caso, corrija o problema o quanto antes e depois tente, não vá despreparado até porque transposição de rios/riachos/córregos é sempre complicado quando não se conhece o local (na duvida, desce e olha, molhe o seu pé), mas o pior não é vencer o rio, o pior é vencer o….
Atoleiro:
Se você acha Móises um herói por abrir um mar, espere para se gabar, pois se você sobreviver as transposições de rio vai precisar passar pela lama.
Ta certo que não é divertido abrir o compartimento do seu filtro de ar e encontrar água dentro dele ou mesmo constatar que seu carro tremendo e falhando esta parecendo uma bomba de água com defeito expelindo água pelo tubo de escape, mas acredite no seguinte, se você não estiver preparado o atoleiro da Cacaria vai te dar problema. Ele é profundo, na densidade certinha para dominar o cofre do motor, atrapalhar seu eletro ventilador de arrefecimento e coisas desse tipo, sem dizer a placa (lembre-se de apertar esses parafusos da placa rapaz!).
Uma rápida olhada da navegadora Lia Souza pela janela rendeu esse belo documento: Em determinado trecho lama na metade da porta….
Avaliando pelo grupo o atoleiro pode ser superado, entretanto, assim como rios e etc você deve entender que o fundo pode guardar surpresas, vá com calma sempre em marcha e não deixando faltar força, se tiver disponível recomendo uma reduzida e se não tiver a mais baixa que possuir. Esse atoleiro não é LAMA COMPACTADA logo é como um rio, porem pela quantidade de lama com uma densidade muito maior se você der mole seu carro apaga.
Pedras:
Você pode evitar alguns pontos críticos como um caminho de pedras, mas mesmo o escape requer alguns cuidados. Nesta foto, desisto do escape a esquerda e encaro o caminho de pedras.
Até o momento cada tópico foi ilustrado com fotos precisas dos marcadores, entretanto aqui iremos ficar devendo uma foto com todos os detalhes e sera preciso um exercício de “imaginação”, porque na verdade são muitos trechos com pedras ao longo da trilha e são pedras grandes por assim dizer, olhe com atenção todas as fotos e você poderá reparar que sempre tem uma pedra acenando feliz para a câmera.
Apesar de ser uma foto de um vídeo onboard, podemos ter uma ideia do trecho REPARE UM DOS CARROS PARADO NO FIM DO TRECHO e calcule a distancia
Mas existe um trecho que você pode tentar sair pela esquerda ou seguir pelo trajeto normal e passar por uma verdadeira estrada de pedras e elas são grandes, acredite. Repare as duas fotos, a primeira estou com o carro alinhado para o escape, para a direita o trajeto normal pelas pedras o segredo é sempre ir com calma e vencer cada uma delas como se fosse um obstaculo individual, não dá para sair acelerando e passando de qualquer maneira porque ou seu carro precisa ser muito alto e com pneus e rodas muito brabos ou você vai quebrar tudo e não é esse o objetivo.
Erosões:
Erosões, sim elas são a cereja do bolo e acreditem, tendem com o tempo a piorar… Muito!
Por toda Cacaria, Judith precisou de ajuda por 3 vezes (Sim a navegadora Lia Souza estava certa como uma profeta) e todas elas se tratavam de erosões. A primeira erosão pode ser considerada “dupla” já que você praticamente não sai da primeira para encarar a segunda, porem é fácil de perceber que são duas em uma já que ambas colocam você em um X de forma extremamente rápida, ou seja via de regra, ao menos UMA RODA fica fora em dois momentos neste trecho, logo, a importância de pelo menos ter o 4×4 sem contar reduzida e bloqueio, caso tenha use.
Não se engane, o angulo da foto não demonstra, mas perceba a torção do chassis em relação as rodas traseiras.. A qualquer momento uma das rodas vai perder tração…
Se você não tem reduzida, não tem bloqueio você ainda pode contar com o 4×4 que será de grande ajuda, mesmo assim deve ter muito cuidado, todas as erosões possuem chance de tombar e algumas (as mais próximas da cachoeira) possuem um risco ainda maior já que perder o controle representa cair em uma das duas grandes valetas que o tempo formou nas laterais, você precisa passar no trilho, devagar controlando o máximo possível.
Resumo e palavras finais:
Visitar a cachoeira da Cacaria é de fato algo que se deve fazer, entretanto é evidente que não significa que você deva tentar chegar lá de qualquer maneira. Converse com pessoas experientes, filie-se em um grupo, forme amigos e se prepare não só para essa como para diversas outras aventuras. Definitivamente não é nada de outro planeta, mas se você quer iniciar não recomendamos que seja por aqui principalmente sozinho ou com outras pessoas sem experiencia.
Após uma belíssima batalha, finalmente a tão falada cachoeira da Cacaria, acredite, com amigos e um bom churrasco, logicamente sem deixar nenhum resíduo para trás… Ela fica melhor ainda.
Levar um carro 4×2 como a Judith para uma trilha como Cacaria começou meio que como brincadeira, um desafio que não seria realizado entretanto como toda brincadeira acaba tendo um fundo de verdade. Judith na minha avaliação foi ótima, fez o que se esperava e precisou de ajuda nas erosões subindo, eu não tenho como dizer que se com uma pessoa mais experiente no volante (Em trilhas) e forçando muito (MUITO MESMO) alem de arriscar demais (DEMAIS MESMO) não desse para passar mesmo nas erosões, entretanto era muito arriscado para tombar o carro ou mesmo danificar algo e no caso das erosões próximas a cachoeira até capotar (Ninguém passou direto, todos precisaram ao menos uma vez recuar e tentar novamente mesmo com o 4×4 e reduzida), dessa maneira pergunto: “Será que essa é a recompensa que o time merece? Ficar aqui resgatando um carro ao invés de ir para cachoeira?” alem disso “Será que é o que o carro merece já sendo tão exigido nos rallys? Ainda ser danificado em uma trilha?” foram essas perguntas que me fizeram ponderar e tomarmos a atitude correta sempre: “Respeitar o carro, o meio e a equipe”.
Já na cachoeira, uma Tucson 4×2 repousava ao lado de carros 4×4 e com nomes consolidados não no mercado somente, mas também na pratica, na trilha. Mitsubish TR4, Suzuki Jimny/Vitara, Toyota Hilux entre outros.
Os personagens e suas viaturas (Nômades):
Lia Souza, navegadora responsável e peça fundamental na tripulação da Judith para conquista do campeonato 2015 do Carioca de Regularidade.
Quanto a equipe, foram diversos bravos nesse combate a começar pela minha navegadora Lia Souza que mostrou ter muita visão e deixou claro na pratica o porque conduziu Judith a vitoria na temporada 2015 do Rally de Regularidade, mesmo sem experiencia em trilhas era ela que fazia as ponderações essenciais para o progresso.
Renato Persan com sua viatura Black Hawk liderando o comboio. Senso de responsabilidade, comprometimento com a natureza e organização fazem a diferença.
Na liderança do comboio, Renato Persan (Mit TR4 – Black Hawk) deu um show na condução e estrategia para vencermos o desafio e voltarmos em segurança, novamente mais um belíssimo dia de muito offroad. Cynthia e Shakira (Suzuki Vitara) duas amigas inseparáveis (Shakira é uma Cocker Spaniel muito mas muita companheira e excelente co-pilota, já a Cynthia é “só” uma humana mesmo como a gente mas uma aventureira e batalhadora de primeira linha no offroad).
Cynthia no comando de uma Suzuki Vitara braba demais. Com sua navegadora Shakira foram estrelas do dia e detonaram com qualquer obstaculo que viam pela frente
Todo grande time precisa de gente como Rommel (Mit TR4 – “Silver Bullet”), cara gente finíssima ao extremo, bem humorado e acima de tudo competente na trilha, com um grande carro e muita disposição. Qualquer sinal de problema ou perigo a fonia no radio já canta e quando você menos espera ele já esta na janela. Em um enrosco meu (Não da Judith, eu que dei mole ao abordar uma transposição) tomou um verdadeiro banho de lama e mesmo assim só sorrisos.
A foto já diz muita coisa. Rommel alem de bem humorado e prestativo conhece bem e sabe como se portar em um comboio, essencial para um bom time.
E por ultimo, propositalmente por ultimo…
A Mit TR4 original foi a estrela do dia com seus pneus originais e grande pilotagem de Thiago e sua tripulante Nathalia.
Thiago e Nathalia (Mit TR4) grande time, grande dupla!! Thiago simplesmente deu um show absoluto na trilha, não se amarrou em nada e fez parecer tudo muito fácil mesmo com pneus originais na sua Mit TR4 Original, basicamente era o único carro totalmente original no comboio, exceto pelo piloto atrás do volante que era TOP com direito a todos os opcionais. Grande cara no mesmo naipe do resto da equipe e na opinião desse humilde missivista o nome do dia!!
E foi isso!! Isso é tudo, pessoal!!
Você pode conferir um album de fotos direto na fã page do Diários de Judith, clicando AQUI
Em breve estaremos soltando um vídeo, compilação de imagens onboard e offboard muito detalhado e que vale apena conferir com certeza!! Espero que esse texto tenha dado uma ideia do que é a Cacaria e de como você deve fazer para chegar lá e o mais importante… Sair de lá inteiro.
Ah! E o mais importante…
“ROC E ENTÃO COMO FICOU O PLACAR JUDITH X CACARIA, QUEM GANHOU?”
Bom levando em consideração os desafios que colocamos acima e etc, pontos por dar um banho de lama no Rommel (com ele tentando me ajudar a sair de um enrosco), o fato de não agarrar em transposições, atoleiro, rio de pedra e etc e mesmo nas erosões descendo (Para baixo todo santo ajuda).. E totalizando todos os pontos? Nós vencemos a Cacaria sim!! E como recompensa pudemos curtir um dia show de bola em suas águas exclusivas a quem tem coragem e preparo para chegar lá mas que acima de tudo pode contar com bons amigos.
“Nós, os Nômades”
Nós Vencemos!!
Um abração a todos!